Opinião: Confesso, envergonhada e triste,
que este é o primeiro livro que leio da Carla M. Soares. Envergonhada porque
tenho todos os livros dela, que aguardam na estante a sua vez. Triste porque só
agora percebo o que tenho estado a perder.
Esta história de Adriana e da sua
família está muito bem escrita e muito bem contada. Adriana foi bastante jovem
para a Argentina e acaba por regressar a Portugal devido a uma herança deixada
por uma tia paterna de quem ela tem escassas memórias.
É, pois através deste acontecimento
que a personagem principal do livro e o leitor vão descobrir o que aconteceu no
Porto, e que levou à ‘fuga’ do pai de Adriana para o continente americano,
terra natal do lado materno da sua família. Por outro lado, e com tempos
diferentes que se cruzam vamos, também, tendo conhecimento da vida desta jovem
na Argentina e de como se deu todo o seu crescimento até ao regresso a
Portugal.
Tratando-se de uma mini saga
familiar, a história retrocede apenas duas gerações, o livro acaba por nos dar
uma história que não sendo comum poderá acontecer com qualquer um de nós. Mas a
parte mais atraente deste livro, na minha opinião, é a forma como Carla M.
Soares trata e caracteriza as suas personagens. Na verdade, neste livro não há
heróis. Há pessoas, gente com qualidades e defeitos, em alguns mais defeitos
que qualidades, mas gente que vive a vida como a sente, como o destino lhe
permite, pedindo desculpa ao errar e avançando sem temer esses mesmos erros.
Adriana tem ela mesmo, ao longo
do livro, uma construção enquanto mulher que a vai fazer crescer e reconhecer
as prioridades da sua vida. Não acho, como diz na capa, que ela não devesse vir
para conhecer o seu segredo. Considero que ela se tornou mais forte, mais
mulher, mais ela, depois de ter descoberto as suas raízes, por muito nefastas
que sejam. Como diz o poeta só sabendo é que poderemos trilhar o nosso caminho
e saber para onde devemos ir. Adriana quando acaba esta façanha sabe
perfeitamente o que quer fazer da sua vida, tendo consciência do que depende e
não depende dela mesma.
Com uma capa lindíssima, diz a
publicidade que este livro é “Emocionante como Allende. Misteriosa como
Ferrante. Portuguesa como Agustina”, e diz bem. Achei o ambiente onde se passa
a ação semelhante ao de alguns livros de Agustina, sem ser imitativo. Tal como
com Isabel Allende aqui as personagens principais são mulheres, reais, sem
heroísmos pouco plausíveis, mas as lutadoras, defensoras dos seus ideais e da
sua vida. No entanto, agradou-me e prendeu-me mais que Ferrante.
Como tal Limões na madrugada é um livro que recomendo vivamente e certamente
me fará tirar as outras obras da autora da estante. Talvez assim a vergonha
passe.
Sinopse: Ansiosa por regressar à Argentina, mas presa a Portugal, distante do homem que ama e da mulher com quem vive, Adriana está perante um dilema universal e intemporal: manter-se comodamente na ignorância ou desvendar o passado da família, como se de um caso policial se tratasse, enfrentando assim aquilo de que andou a fugir toda a vida, por mais doloroso que seja.
Num jogo magistralmente imaginado pela autora, entre a vida atual de Adriana e os ecos do Portugal antigo, machista e violento dos seus pais e avós, esta história, de uma família e dois continentes, é uma viagem entre o presente e o passado, uma ponte sobre o fosso cultural que separa as gerações, um tratado sobre tudo aquilo que a família pode fazer à vida de um só indivíduo.
Entre a sombra e a luz, deixando que por vezes os silêncios falem mais alto do que as palavras, Limões na Madrugada é um romance sobre o amor incomum, o poder da família e a necessidade da coragem.
UMA HISTÓRIA TÃO SUBTIL QUANTO IMPLACÁVEL.
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