Este é um livro que tinha há mais de um
ano na estante. Tirava, colocava, e acabei por não o ler.
Agora, devido à Maratona literária de verão,
e à publicação de um novo livro da autora, acabei, finalmente, por o ler. E fiz
bem.
Na verdade, o livro tem todos os
ingredientes que me agradam. Tem suspense, vários tempos narrativos, que vão
alternando até se juntarem no presente e uma sequência narrativa que nos faz
querer ler o capítulo seguinte.
Nora
é uma jovem escritora que subitamente recebe um convite para ir à despedida de
solteira de uma amiga de liceu, que não vê há dez anos. Nada de extraordinário,
não fosse o facto da distância temporal sem se falarem, de não estar convidada
para o casamento e, como tal, não saber sequer quem era o noivo.
Ficamos
também a saber que Nora e Clare, a noiva, foram melhores amigas, e que o
afastamento se deveu a um problema amoroso de Nora, de tal forma importante,
que esta resolve sair da cidade onde vivia, sem se despedir de ninguém. O
problema é que dez anos depois a jovem escritora continua a olhar para o
passado e a não esquecer os sentimentos de raiva perante o que lhe aconteceu.
No
entanto, resolve ir ao fim de semana, para ver se, dessa forma, consegue fazer
as pazes com o passado. O problema é que tudo corre mal desde a chegada a uma
casa escura, cheia de grandes janelas viradas para a floresta, até às pessoas,
na sua maioria desconhecidas, e com comportamentos inadequados. Estas três/
quatro personagens que coabitam a casa, são, no mínimo, enigmáticas, e não
sabemos, senão no final, interpretar as suas atitudes e ações.
A
partir destas premissas Ruth Ware constrói um romance psicológico, onde Nora (e
a história é-nos sempre dada através da sua visão) não consegue entender o que
se passa, qual o jogo que os outros jogam, ou o que pretende Clare com aquele
encontro.
Podemos pensar que este é um livro sobre
os problemas da amizade e das situações mal resolvidas. Não achei. Considero
que se trata de um livro sobre egos e a valorização da pessoa e da sua vida
sobre as outras. A amizade não tem egos, e não funciona com um ‘eu’, funciona
com um ‘nós’, o que nunca surge neste livro. Todas as personagens, protagonista
incluída, querem sobreviver por si, mostrar as suas competências e demostrar o
que são capazes de fazer pelo outro, para que o outro reconheça nela essas
mesmas aptidões. Só assim podemos entender a introdução de uma personagem como Melanie.
No
entanto é na realidade um livro sobre situações mal resolvidas e equívocos do
passado. Mais, o seu esclarecimento, tanto tempo depois, é o mote para os
acontecimentos mais dramáticos do livro.
Tudo isto é pouco perante o que se passa
no livro, mas o suspense é a melhor forma de manter o interesse. É, pois, um
livro que recomendo sem hesitações. Na verdade fiquei de tal forma agradada com
esta estreia que já pondero ler o novo livro da autora, recentemente lançado.
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